08 abril 2008

Metade



Que a força do medo que tenho, não me impeça de ver o que anseio...
Que a morte de tudo o que acredito não me tape os ouvidos nem a boca...
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe, seja linda, ainda que tristeza...
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo que distante...
Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece, nem repetidas com fervor...
apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos...
Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.




Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço...
Que essa tensão que me corroí por dentro seja um dia recompensada...
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável...
Que o espelho reflita em meu rosto, um doce sorriso, que me lembro ter dado na infância...
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria, para me fazer aquietar o espírito...
E que o teu silêncio me fale cada vez mais...
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.



Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba...
E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para faze-la florescer...
Porque metade de mim é a platéia, e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada...
Porque metade de mim é amor, e a outra metade...também

Oswaldo Montenegro

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